A Estação Rodoviária de Ilha Comprida
Obra de Ilha Comprida
iniciada nos idos de 2003/2004, portanto há praticamente dez anos, objeto do
processo judicial 479/2009 da 1ª.Vara Cível da Comarca de Iguape, Ação Civil
Pública movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo.
Não vou dizer que esta
obra é um monumento ao descaso e à malversação dos recursos públicos porque
isso é lugar comum, é a voz do povo....
Não vou dizer que esta
obra é motivo de chacota para nossa cidade quando os administradores, tentando
abusar da inteligência da população, querem fazer crer que sua reconstrução
teve custo zero para o município, porque isso é lugar comum, é a voz do povo...
Não vou dizer que o
dinheiro enterrado nesta obra ao longo de dez anos, sem funcionar, teria sido
mais útil melhorando o atendimento médico, o fornecimento de remédios, melhorando
as condições de trabalho dos professores e muito mais, porque isso é lugar
comum, é a voz do povo...
Não vou dizer do
menosprezo à inteligência de nosso povo, ao se tentar culpar os autores da ação
judicial, e não os infratores, pelas conseqüências de seus atos, autores que
deram conhecimento ao ministério público e ao judiciário das irregularidades
que então lá aconteciam. Que o judiciário acatou as denúncias porque com
fundamento e que por isso a obra foi paralisada judicialmente. Disso não
falarei, porque isso é lugar comum, é a voz do povo...
Quero, entretanto, fazer
algumas observações de detalhes técnicos, como segue:
A estrutura da
Rodoviária foi desmanchada, ficando apenas as colunas e na sua reconstrução as
tesouras que sustentam o telhado tiveram sua quantidade dobrada visto que foi
colocada uma ao lado da outra, ou seja, onde tinha uma tesoura passou a ter
duas. Isto, sem se redimensionar as colunas.
Assim, o peso da
estrutura aumentou extremamente, aumentando a suscetibilidade das colunas
esbeltas ao fenômeno da flambagem. Para o leigo, quero explicar que o fenômeno
da flambagem é análogo a quando colocamos uma régua, dessas de plástico de
30cm, na posição vertical e com as mão pressionamos em cima e em baixo. Todos sabemos
que a régua se curva e isto é o fenômeno da flambagem.
Isto acontece também nas
colunas esbeltas aumentando consideravelmente os esforços a que elas ficam
submetidas, dependo das proporções, podendo chegar ao ponto da ruptura.
Clique para ver imagem
da ilustração e detalhes técnicos para quem tiver interesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Flambagem
Outrossim, travessas
colocadas na estrutura com o objetivo de diminuir o vão das tesouras fazem com
que as colunas fiquem sujeitas, além do esforço vertical, a esforço transversal
que colabora com o aumento à suscetibilidade à flambagem.
Ainda, o aumento
considerável da carga na parte de cima da estrutura, faz subir o centro de
gravidade do conjunto, aumentando o comprimento da onda do movimento pendular
em função dos ventos e do movimento de rotação da terra, o que faz crescer
consideravelmente os esforços nos pés dos pilares, esbeltos para os pesos que
estão suportando.
Além disso, tal
transformação estrutural, o deslocamento para cima do centro de gravidade, diminui
a freqüência de ressonância do conjunto tornando mais fácil a coincidência com
os valores de freqüência dos ventos aumentando a suscetibilidade do conjunto
estrutural ao fenômeno da ressonância, que tem trazido sérios problemas a
grandes estruturas, inclusive de concreto armado.
Para ilustrar o que
significa isso, quando se balança uma pessoa num balanço comum, esses de parquinho
e se dá uma “empurradinha” a mais bem na hora que o balanço começaria a descer,
a intensidade do balanço aumenta cada vez mais, por menor que seja o esforço de
empurrar. Essa coincidência do momento de empurrar com o momento em que o
balanço começa a descer, repetidas vezes, é o que se chama de ressonância.
Clique se quiser saber
um pouco mais sobre a ressonância: http://www.sofisica.com.br/conteudos/Ondulatoria/Ondas/ressonancia.php
Em termos de Arquitetura
não falarei sobre o design porque é questão extremamente pessoal e subjetiva.
Devo entretanto dizer que a cobertura foi feita com mão de obra muito
competente, com alinhamento milimétrico e inquestionável. Em termos de
eficiência da arquitetura, devo dizer que chove dentro quase tanto quanto fora
em função da falta de proteção dos ventos.
Em função do que aqui
foi apresentado, entendo que a Rodoviária de Ilha Comprida não deve ser
disponibilizada para uso da população sem que haja um laudo feito por
instituição tecnicamente competente e idônea que ateste que a estrutura não
está sujeita a tais fenômenos a ponto de risco de desastre.
Outrossim, faço votos de
que a Rodoviária, se e quando colocada em funcionamento, funcione efetivamente
e seja um equipamento que sirva a população de Ilha Comprida, que traga mais
conforto, dignidade e que colabore com a eficiência do transporte em nossa
cidade.
Abrahão
Pedro
Presidente do DM PT Ilha Comprida
Por profissão é Engenheiro Civil e Corretor de Imóveis.
Por paixão e por compromisso é amante da Teologia e da Filosofia
e pregador da Palavra do Grande Mestre Jesus Cristo.