Por
que trazer a Copa do Mundo para o Brasil?
Em
primeiro lugar, porque o futebol é parte fundamental da cultura brasileira e
uma de suas mais elevadas expressões.
Introduzido
no país no final do século XIX por ingleses, rapidamente o futebol ganhou
popularidade entre nós, ao ponto de identificarmos, ainda nas primeiras décadas
do século passado, um jeito próprio brasileiro de jogar futebol: leve,
misturado, criativo e plástico. No pós Segunda Guerra, com a organização do
Mundial em 1950 e com os títulos de 1958, 1962 e 1970, o futebol brasileiro
superou o que Nelson Rodrigues chamaria de “complexo de vira-latas” – a ideia
de que o Brasil jamais daria certo. A seleção brasileira, então, alcançou a
supremacia (confirmada em 1994 e 2002) no esporte coletivo mais assistido,
praticado e admirado no mundo.
Eric
Hobsbawm, um dos mais importantes historiadores ingleses, observou com
propriedade a respeito do futebol brasileiro: “Quem, tendo visto a seleção
brasileira em seus dias de glória, negará sua pretensão à condição de arte?” O
estilo peculiar do escrete brasileiro transformou nossa seleção em ponto de
referência de um futebol competitivo e, ao mesmo tempo, de alto nível estético.
Com a possível exceção da música popular, nenhuma outra manifestação cultural
brasileira atingiu tal padrão de excelência no cenário internacional.
Além
do significado da Copa para a história e cultura brasileira, o torneio é um
evento de grande porte internacional realizado nas cinco regiões do país, o que
traz diversas oportunidades, tais como: intensificação da exposição do Brasil
ao mundo, uma vez que a Copa deve ser vista por metade da população mundial;
aceleração de investimentos em infraestrutura, como em mobilidade urbana,
aeroportos etc.; ampliação do turismo doméstico e de estrangeiros no país; e
amplo retorno financeiro.
Mas
não era melhor investir em saúde e educação?
Ao
todo, o plano de investimentos nas cidades-sede da Copa do Mundo do Brasil
totaliza R$ 25,6 bilhões (portal da transparência da Copa, www.copa2014.gov.br).
Cerca
de 69% deste total (17,6 bilhões) representam investimentos em infraestrutura e
políticas públicas, especialmente em mobilidade urbana (R$ 8,0 bilhões
investidos), aeroportos (R$ 6,2 bilhões), segurança (R$ 1,9 bilhão) e portos
(R$ 0,6 bilhão). Ou seja, nestes casos a Copa contribuiu diretamente para
acelerar investimentos associados ao bem-estar da população, bem como
impulsionar a melhoria das políticas públicas. São investimentos, em sua maior
parte, que deveriam ocorrer independentemente da Copa, mas que foram por ela
antecipados ou acelerados.
Os
outros 31% (R$ 8,0 bilhões) de despesas com o plano de investimentos para a
Copa estão sendo destinados à construção e modernização de 12 estádios de
futebol nas cidades-sede. Os gastos em estádios não ocorreriam sem a Copa, ao
menos na dimensão e na velocidade com que foram feitos.
Mas
isso não quer dizer que comprometem os investimentos em educação e saúde ou que
não tragam benefícios para além do torneio.
Em
primeiro lugar, os gastos com os estádios foram pagos com financiamento do
Governo Federal, recursos locais de Estados e Municípios, e recursos privados.
No caso do Governo Federal, portanto, não competem com saúde e educação, uma
vez que estas políticas são financiadas com recursos do orçamento oriundos de
impostos pagos pelos contribuintes, diferentemente dos empréstimos.
Ademais,
além de não competirem com o orçamento, os empréstimos públicos voltam com
juros para o Governo Federal. No caso dos Estados e Municípios que destinaram
recursos próprios à construção/modernização de estádios, como no Rio de Janeiro
ou em Brasília, é importante lembrar que por determinação legal, fiscalizada
pelos Tribunais de Contas, são obrigados a destinar um percentual mínimo das
receitas para educação e saúde; a construção de estádios não altera essa regra.
Além disso, estádios como o novo Maracanã e o novo Mineirão, concedidos à
iniciativa privada, gerarão receitas públicas ao longo do tempo que devem
ressarcir grande parte das despesas com a modernização. Por fim, a reforma de
estádios, como a do Beira Rio em Porto Alegre , também foi custeada com recursos
privados; nestes casos, evidentemente, o investimento não compete com despesas
públicas em saúde e educação.
Em
resumo, além de não competirem com os gastos federais em saúde e educação, os
investimentos em estádios, quando financiados com recursos públicos locais, não
desobrigam Estados e Municípios de manterem e ampliarem suas despesas com
educação e saúde.
Em
segundo lugar, é preciso contextualizar melhor o real esforço representado pela
modernização de estádios em uma economia de renda média como a brasileira. Não
há dúvida de que R$ 8,0 bilhões não é pouco dinheiro, mas, por outro lado, está
longe de consistir em esforço acima das capacidades do país. Por exemplo, entre
2010 e 2013, quando as obras para a modernização dos estádios se
intensificaram, o produto total brasileiro (PIB) alcançou R$ 18,8 trilhões
(segundo o IBGE), ou seja, o custo total dos estádios (R$ 8,0 bilhões)
representou o equivalente a 0,04% do PIB do período. Outra comparação:
considerando apenas os gastos públicos federais com educação e saúde entre 2010
e 2013, a
contabilidade pública revela que somaram R$ 825,3 bilhões, ou cerca de 100
vezes o custo dos estádios.
Por
fim, a construção dos novos estádios gerou empregos na construção civil,
estimulou o setor nos últimos anos e potencialmente alavanca a chamada
indústria do futebol brasileiro. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, o
potencial de movimentação de recursos ligado ao futebol brasileiro chega a R$
60,0 bilhões por ano com 2,1 milhões de empregos diretos e indiretos. Os novos
estádios são peça chave deste potencial: tomando-se por base o Campeonato
Brasileiro de 2013, os novos estádios modernizados atraíram público médio 88%
maior do que o dos estádios antigos na mesma competição.
Mas,
afinal, quanto e em que estamos investindo para a Copa do Mundo?
Ao
todo, o plano de investimentos nas cidades-sede da Copa do Mundo do Brasil
totaliza R$ 25,6 bilhões (portal da transparência da Copa, www.copa2014.gov.br).
Cerca
de 69% deste total (17,6 bilhões) representam investimentos em infraestrutura e
políticas públicas. São investimentos públicos, estatais e privados acelerados
pela Copa e diretamente associados ao bem-estar da população. A discriminação
destes investimentos é apresentada a seguir:
-
mobilidade urbana, 45 obras e R$ 8,0 bilhões investidos em novas vias urbanas,
acessos a aeroportos, corredores de ônibus, estações de metrô, 13 Bus Rapid
Transit (BRTs) e 2 Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs);
-
aeroportos, ampliação de 81% na capacidade de recepção de passageiros nas
cidades-sede com investimentos de R$ 6,2 bilhões;
-
segurança, investimentos em integração de sistemas, em inteligência, nos pontos
de entrada do país e em 14 Centros Integrados de Comando e Controle perfazendo
um total de R$ 1,9 bilhão;
-
portos, melhoria nos terminais de Fortaleza, Natal, Manaus, Recife e Salvador,
e alinhamento do cais de Santos, totalizando R$ 587 milhões;
-
telecomunicação, investimentos de R$ 400 milhões em expansão da rede de fibra
ótica estatal (Telebras) e em modernização de procedimentos e fiscalização da
Anatel;
-
turismo, expansão da infraestrutura e investimento em qualificação através do
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec Turismo) num total de
R$ 196 milhões.
Os
outros 31% (R$ 8,0 bilhões) de despesas com o plano de investimentos para a
Copa estão sendo destinados à construção e modernização de 12 estádios de
futebol nas cidades-sede. Os gastos com estádios foram realizados com
financiamento do Governo Federal (R$ 3,9 bilhões do BNDES), com recursos de
Estados e Municípios e com recursos privados. Os R$ 3,9 bilhões de
financiamento do Governo Federal representaram 0,5% do total de desembolsos do
BNDES entre 2010 e 2013, e voltarão com juros para o setor público.
Mas
não é errado gastar dinheiro público em estádio de futebol?
Como
visto acima, os gastos com estádios não envolvem apenas recursos públicos. O
Governo Federal, por exemplo, não realizou despesas orçamentárias com estádios,
apenas emprestou para Estados, Municípios e clubes responsáveis pelos estádios.
Os recursos destes empréstimos voltarão, com juros, para o Governo Federal e
não competem com o orçamento e com outras políticas públicas.
No
caso dos Estados e Municípios que destinaram recursos próprios ou tomaram
empréstimos para a construção/modernização de seus estádios, isto não os
desobriga de manter e ampliar despesas com saúde e educação, por exemplo. Além
disso, estádios como o novo Maracanã e o novo Mineirão, concedidos à iniciativa
privada, gerarão receitas públicas ao longo do tempo que devem ressarcir parte
das despesas com a modernização.
Já
a reforma de estádios, como a do Beira Rio em Porto Alegre , também
foi custeada com recursos privados; nestes casos, evidentemente, parte do
investimento não compete com despesas públicas.
Em
termos gerais, no curto prazo as obras nos estádios da Copa movimentaram a
construção civil das cidades-sede do torneio e geraram emprego e renda. Do
ponto de vista simbólico, preservam e modernizam parte do patrimônio cultural
nacional. No médio e longo prazo, os novos estádios potencializam a chamada
indústria do futebol no país, assim como grandes eventos culturais.
Por
fim, uma abordagem mais pormenorizada da questão do dinheiro público nos
estádios impõe análise caso a caso, incluindo considerações sobre as demandas
das populações de cada uma das 12 cidades-sedes da Copa do Mundo, a importância
de cada uma delas para o futebol regional e nacional, perspectivas de atração
de eventos e novos investimentos a partir dos estádios etc.
Todos
os estádios foram construídos ou reformados com dinheiro público?
Não.
Como discutido acima, os gastos com os estádios foram pagos com financiamento
do Governo Federal, recursos locais de Estados e Municípios, e recursos
privados.
O
Governo Federal, vale relembrar, não realizou despesas orçamentárias com
estádios, apenas emprestou para Estados, Municípios e clubes responsáveis pelos
estádios. Os recursos destes empréstimos voltarão, com juros, para o Governo
Federal e não competem com outras políticas públicas federais.
De
acordo com a Matriz de Responsabilidades da Copa, última versão divulgada em
setembro de 2013, o financiamento da construção e reforma dos estádios da Copa
se distribuiu da seguinte forma:
-
financiamento federal previsto: R$ 3,91 bilhões;
-
recursos previstos dos Governos Locais: R$ 3,95 bilhões;
-
recursos previstos da iniciativa privada: R$ 0,13 bilhão.
Mas
o Brasil vai ganhar o quê com a Copa, além da parte cultural?
A
Copa do Mundo no Brasil mais do que se paga com a renda multiplicada e gerada a
partir dos investimentos a ela associados.
Levantamento
da Fundação de Estudos e Pesquisas Econômicas (FIPE), ligada à USP, estimou que
a Copa das Confederações em 2013, com a presença de ¼ do número de seleções
presentes na Copa do Mundo e com apenas 16 jogos (contra 64 da Copa do Mundo),
acrescentou R$ 9,7 bilhões ao PIB. A expectativa é que a Copa do Mundo
acrescente mais R$ 30,0 bilhões ao PIB, valor superior ao total de R$ 25,6
bilhões incluídos no plano de investimentos das cidades-sede e muito maior do
que o gasto de R$ 8,0 bilhões com estádios.
Durante
os 30 dias da Copa, a previsão é de que tenhamos a circulação de mais de 600
mil turistas estrangeiros pelo país, o dobro da África do Sul em 2010, e mais
de 3 milhões de turistas nacionais.
De
acordo com a Embratur, o valor total movimentado pelo turismo durante a Copa
deverá chegar a R$ 25,0 bilhões.
Por
fim, ressalte-se que a maior parte dos investimentos (R$ 17,6 bilhões) é em infraestrutura
para o país, como a reforma de portos, aeroportos, mobilidade urbana e
desenvolvimento turístico. São obras que ficarão para o país depois que a Copa
do Mundo acabar.
fonte: http://www.pt.org.br/mundial-traz-beneficios-sem-tirar-dinheiro-de-areas-sociais/